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quarta-feira, 13 de junho de 2012

População será a mais afetada pelas mudanças climáticas


População será a mais afetada pelas mudanças climáticas

13.06.2012



Historicamente a região sofre com os efeitos das secas e estiagens. Este ano vive uma das piores dos últimos 40 anos
Com área estimada em 966 mil quilômetros quadrados - desse total, 850 mil é formado pelo seu principal bioma, a Caatinga -, o semiárido brasileiro ocupa 10% do território nacional e abriga 23 milhões de pessoas.


O Semiárido brasileiro concentra diversos biomas, sendo a Caatinga o maior, ocupando quase a totalidade de sua área. Um dos principais desafios é conciliar o uso sustentável da Caatinga e desenvolvimento, já que 60% do bioma sofreu interferência

Região de clima quente, com chuvas escassas e propensão às secas, fenômeno que acompanha a história do semiárido nordestino, cujos primeiros relatos datam de 1534.

Após quase um século da utilização de modelos de combate ao fenômeno - construção de açudes, criação de agências de fomento e o uso político, como a "indústria da seca"-, hoje, a compreensão da convivência com o semiárido inaugura um novo discurso.

Não apenas no campo científico, mas no terreno do político e social. Estudos mostram que as regiões semiáridas serão as mais afetadas pela mudanças climáticas. Nos próximos 100 anos, a temperatura do Planeta pode aumentar entre um e cinco graus, prevê o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Esses efeitos passaram a ser sentidos com maior intensidade após a Revolução Industrial que contribuiu para o aumento da concentração de carbono na atmosfera. No entanto, pesquisadores, a exemplo do integrante do grupo Manejo de Água e Solo no Semiárido (Massa), Deodato do Nascimento Aquino, aluno do Doutorado do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal do Ceará (UFC), reclamam da falta de incentivo para pesquisa na região.

"Antes, não existia incentivo". O estudante diz que as pesquisas estão começando agora, atentando para os riscos da desertificação.

Essas terras "compreendem 40% do território global, 30% da população e mais da metade da pobreza do mundo", pontua o economista e professor Antônio Rocha Magalhães, que atualmente trabalha como assessor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).

No Brasil, a região concentra os maiores índices de pobreza, sendo considerado o calcanhar de Aquiles para a erradicação da pobreza extrema brasileira, que segundo promessa do Governo Federal, será página virada até 2014.

Nova estética

Decantado em prosa e verso, a exemplo da Literatura de 30 e do Cinema Novo, com sua estética da fome, o semiárido o nordestino mostra que é possível reverter esse quadro. Embora faça parte de uma realidade mundial, materializada nos prognósticos das mudanças climáticas.

As consequências serão mais desastrosas nas regiões semiáridas, a exemplo do Nordeste brasileiro, onde existem áreas que concentram altos índices de desertificação. No Ceará, a região do Jaguaribe é uma das mais afetadas. Assim como devem ser agravados os problemas de abastecimento de água e escassez de alimentos, as migrações devem aumentar, no mundo todo.

O Nordeste, que nas décadas de 1960 e 1970 viu grande parte de sua população migrar para as terras do "Sul", pode vir a sofrer novo pesadelo. Assim como países da África. O investimento em pesquisa e educação das populações dessas regiões constitui uma das formas de conviver com essa nova realidade.

Situação piorou

"A situação concreta de degradação e desertificação tem piorado durante esses 20 anos", avalia Antônio Rocha Magalhães. Da Segunda Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semiáridas (Icid + 18) para a Rio + 20, poucas modificações podem ser observadas no cenário dessas regiões, reconhece.

"Passaram-se menos de dois anos, é um prazo curto", justifica. O quadro pintado pelo pesquisador não é dos mais favoráveis quanto à sustentabilidade, sobretudo quanto ao problema da desertificação, adaptação às secas e aos prognósticos referentes às mudanças climáticas.

FIQUE POR DENTRO
Plano piloto de recuperação é urgente no CE
"A intenção é recuperar os recursos hídricos, a biodiversidade e tornar a área produtiva. Só as plantas mais rústicas sobrevivem nessas condições", justifica Sônia Perdigão, engenheira agrônoma da Funceme, coordenadora de projeto de área degradada do Médio Jaguaribe e municípios circunvizinhos. Lamenta que as queimadas continuam sendo praticadas.

No entanto, comemora a recuperação do município de Canindé. "Existem áreas que estão sendo plantadas pelos agricultores. "Vamos replicar essas ações no Estado", conta, completando que culturas como milho, feijão e mandioca não nascem mais em áreas desertificadas.

É necessária a utilização de técnicas para que as plantas nativas tenham condições de nascer. Isso demonstra que estão no caminho certo. Ou seja, a aplicação do plano de recuperação das áreas degradadas. Informa que será á feito em escala piloto, com a realização de obras de contenção e manejo adequado.

O zoneamento ecológico e econômico, assim como e o levantamento de solo são necessários para o melhor conhecimento do território cearense. Ressalta que existem ações pontuais, a exemplo do trabalho que a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) realiza para a conservação e manejo de solo, construção de barragens subterrâneas que captam água para populações difusas. Essas ações não degradam a terra.

Além da gestão de bacias realizada pela Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH) e construção de açudes. Sônia Perdigão destaca a importância dos comitês de bacias, completando que a Funceme e a SRH trabalham com as informações climáticas e meteorológicas. Muitos comitês definiram que só irão liberar água para o consumo humano caso não chova mais este ano.

Ela afirma que o Ceará é muito suscetível à desertificação, por dois motivos: primeiro, devido à vulnerabilidade às mudanças climáticas, e, segundo, em função das ações do homem. Destaca que o foco do trabalho é o desenvolvimento sustentável.

Desertificação é intensa no JaguaribeCom 92% de seu território localizado no bioma Caatinga, algumas regiões do Ceará apresentam altos índices de degradação ou estão em processos de desertificação. Irauçuba, Inhamuns e Médio Jaguaribe são as mais afetadas.

O alerta veio em 1992, quando estudo da Conferência Internacional sobre Clima e Desertificação (Icid) identificou que 10,2% de áreas do Estado encontravam-se em processo de desertificação. Em 2010, os estudos continuaram.

"Passamos a conhecer melhor o ambiente físico e compreender os efeitos do clima", admite Margareth Benício, gerente do Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

Desde a Icid + 18, a Funceme foi indicada para ser a instituição responsável pela pesquisa em informações climáticas, meteorológicas e ambientais do Estado. Além de adquirir equipamentos.

"O Ceará é um pouco carente em estudos básicos". Em 2005, o Brasil criou o Plano Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, ficando determinada a criação dos planos estaduais. O Programa tem o objetivo de traçar as diretrizes da política de combate à desertificação. O Estado deve percorrer um longo caminho para reverter a situação, sendo necessário dar o primeiro passo: o zoneamento ecológico e econômico das áreas desertificadas que estão sendo trabalhadas.

"Metade do trabalho está feito e foram realizadas oficinas de campo", observa Margareth Benício. A finalidade do estudo é verificar a melhor forma de ocupar o território, sendo estudados vários aspectos da região como solo, clima, geologia, geomorfologia e vulnerabilidade social.

As oficinas de trabalho servem para orientar como será feita a ocupação dessas zonas em cada município, já que elas são vulneráveis. "Indicar a forma de manejo e projetar cenários futuros só será possível conhecendo a vulnerabilidade dessas áreas".

As s regiões estudadas diferem um pouco em termos de vegetação, já que o clima é homogêneo. Os solos são diferentes, por isso necessitam de um manejo específico para cada um. "Estão bem degradadas, sendo os municípios de Jaguaribe os mais atingidos". Não existe uma pesquisa que possa comprovar quais as causas da degradação. A utilização da terra pelo gado pode ser uma das causas, além do algodão ou de ambos.

Área

10% 
é quanto o semiárido ocupa do território nacional, região que abriga 23 milhões de pessoas, e concentra os maiores índices de pobreza do País

92% é o percentual da área do território do Ceará que se encontra localizado no bioma Caatinga e algumas regiões apresentam altos índices de desertificação 

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